Quinta de Cinema Bicho de Sete Cabeças

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Bicho de Sete Cabeças é um
filme de drama brasileiro de 2000 dirigido por Laís Bodanzky e com roteiro de
Luiz Bolognesi baseado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno, Canto dos Malditos. O filme foi realizado com a
parceria entre as produtoras brasileiras Buriti Filmes, Dezenove Som e Imagens
Produções Ltda. e Gullane Filmes, com a participação da brasileira RioFilme e
da italiana Fabrica Cinema e a distribuição da Columbia TriStar, e contou com
Rodrigo Santoro, Othon Bastos e Cássia Kis Magro nos papéis principais.

Dois anos e meio depois de ter sido recolhido de todas as livrarias do país por ordem judicial, “Canto dos Malditos” finalmente volta às prateleiras. O livro de Austregésilo Carrano Bueno é um precioso documento sobre os abusos cometidos em hospitais psiquiátricos brasileiros e serviu de base para o premiadíssimo Bicho de sete cabeças, da cineasta Laís Bodanzsky. A nova edição conta ainda com um posfácio inédito, que dá ainda mais profundidade e atualidade à obra. “Canto dos Malditos” é um texto autobiográfico em que o paranaense Austregésilo Carrano Bueno narra sua via-crúcis pelos hospícios de Curitiba e do Rio de Janeiro. Aos 17 anos, em 1974, ele era um jovem rebelde, habituado a fumar maconha e a se drogar com medicamentos de uso restrito, embora não pudesse ser considerado um viciado. Certo dia, o pai de Austry, como ele era chamado, encontrou uma trouxinha da erva alucinógena em sua jaqueta. Sem nem ao menos conversar a respeito do assunto com o filho, ele o internou à força num hospital psiquiátrico de sua cidade, Curitiba, para desintoxicação. Foi quando começou o horror do autor. Ao longo de um ano de internação, Austry foi submetido a dezenas de sessões de eletrochoque, além de ser obrigado a ingerir cerca de 15 comprimidos diários. Ele, que então se preparava para o vestibular, passou a viver cercado de enfermeiros sádicos, psicopatas ameaçadores e loucos que defecavam e urinavam por toda parte. No fim do “tratamento”, o jovem rebelde e cheio de vida havia se transformado num ser abobalhado, sem vontade própria, incapaz de se concentrar em qualquer atividade ou mesmo de abotoar uma camisa, com o organismo repleto de substâncias químicas cujos nomes ele jamais saberá. E tudo isso foi feito sem que médico algum o examinasse ou lhe dirigisse a palavra, nem mesmo no ato da internação.

O filme conta a
história de Neto (Rodrigo Santoro), um jovem que é internado em um hospital
psiquiátrico após seu pai descobrir um cigarro de maconha em seu casaco. Lá,
Neto é submetido a situações abusivas. O filme, além de abordar a questão dos
abusos feitos pelos hospitais psiquiátricos, também aborda a questão das drogas
e a relação entre pai e filho e as consequências geradas na estrutura da
família.
Bicho de Sete
Cabeças foi amplamente aclamado de um modo geral, recebendo vários prêmios e
indicações, dentre eles, o Prêmio Qualidade Brasil, o Grande Prêmio Cinema
Brasil e o Troféu APCA de “Melhor Filme”, além de ser o filme mais
premiado do Festival de Brasília e do Festival do Recife. O filme abriu portas
para uma nova maneira de pensar sobre as instituições psiquiátricas no Brasil,
e em torno disso, foi aprovada pelo Congresso Nacional uma lei que proíbe a
construção de instituições com características asilares, ou seja, as que não
garantem os direitos fundamentais dos doentes mentais. Em novembro de 2015 o
filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema
(Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Enredo
O filme começa com
Sr. Wilson (Othon Bastos) lendo uma carta que recebeu de seu filho, na qual
este diz estar lhe mostrando “a porta da rua”. Após um flashback, a
história começa a ser contada: Wilson de Souza Neto, um jovem estudante de
segundo grau e de classe média baixa, mais conhecido como Neto (Rodrigo
Santoro), tem um relacionamento conturbado com seu pai e sua mãe (Cássia Kis
Magro). Ele prefere ficar com seus amigos, andar de skate, pichar muros e fumar
maconha. Em um dia, Neto viaja sem avisar para onde vai, junto com Lobo
(Gustavo Machado), porém não gosta do que encontra e vai embora.
Sem dinheiro, no
meio da cidade de Santos, ele começa a abordar pessoas para pedir dinheiro, mas
a maioria recusa. Apenas Leninha (Valéria Alencar), uma mulher num bar, lhe
ajuda. Eles vão para a casa dela e depois de comerem, eles se relacionam
sexualmente. Após ir embora, ele vai pichar junto de seus amigos, porém eles
são vistos e ele é preso, forçando seus pais a buscá-lo na delegacia. Ele e seu
pai brigam e quando Neto vai para o quarto, Wilson encontra um cigarro de
maconha em seu casaco. Os pais de Neto são aconselhados pela sua filha (Daniela
Nefussi), que ajuda a conseguir uma vaga no lugar, a interná-lo.
Seu pai diz que vai
levá-lo para visitar um colega no hospital, porém quando eles chegam lá, os
enfermeiros o levam a força e ele é internado sem a realização de um exame
sanguíneo ou psicológico para constatar a necessidade de internação, recebendo
um sedativo antes do diagnóstico do Dr. Cintra Araújo (Altair Lima), que
raramente se encontra no hospital. Quando acorda, se depara com Ceará (Gero
Camilo), um homem de comportamento hiperativo, e vai até o refeitório, onde
encontra uma situação decadente e de descuido. Alguns presos pedem um cigarro
para ele, porém eles são afastados pelo enfermeiro Marcelo (Luís Miranda).
Ele também conhece
Rogério (Caco Ciocler), um usuário de drogas injetáveis internado por sua
família há cinco meses, que lhe diz que é impossível fugir dali e se ele tentar
seria drogado com haloperidol ou eletrocutado. Seu colega lhe instrui a não
consumir os remédios dados pelos enfermeiros, pois eles despertam o apetite
para que os pacientes se alimentem e pareçam saudáveis. Enquanto isso, o Dr.
Cintra tem uma conversa na qual ele discute sobre a verba dada pelo governo e
que se fosse necessário ele poderia facilmente conseguir pessoas,
principalmente sem tetos, para não perdê-la.
Após pelo menos
quinze dias de internação, o tempo mínimo para um interno poder receber
visitas, os pais e a irmã de Neto vão visitá-lo, descobrem que ele terá que
ficar meses no local e mesmo após ele implorar para ser levado embora, eles
recusam. Antes do encontro, o doutor disse que ele agiria assim a fim de
enganá-los.
Em um dia, Neto
tenta fugir aproveitando a distração dos enfermeiros, mas é capturado e,
naquela noite, recebe descargas elétricas como punição. De repente, seu pai vai
visitá-lo, diz que ele e sua mãe estão sentindo muito a falta dele e que nunca
viu ela tão triste. Neto pede que seu pai o leve embora e ele faz isso. Na sua
casa, sua mãe pergunta ao garoto abatido, que diz ainda não estar recuperado,
se deseja voltar para o colégio ou trabalhar como vendedor e ele decide que
quer o emprego. Após a mãe de um amigo seu proibi-lo de visitá-lo e ele
descobrir que Leninha é casada, Neto começa a ficar estressado a ponto de
abandonar um cliente em meio a uma negociação para passear. Para aliviar
tensão, a noite, ele vai em uma festa, onde começa a beber bastante Coca-Cola e
cachaça, e após ficar bêbado leva Bel (Talita Castro) para o banheiro; porém,
antes que algo possa acontecer, ele se descontrola e começa a destruir diversos
objetos. A garota foge e ele é preso por resistir à prisão e internado novamente.
Nessa nova
instituição, Neto desperta a ira do enfermeiro Ivan (Jairo Mattos) após contar
ao seu superior que ele exagerou ao tentar acalmar um paciente. A partir de
então, o enfermeiro fica de olho em Neto e quando o vê não tomando um
comprimido aproveita para dar a ele uma injeção. Na noite do mesmo dia, Neto
deixa uma enfermeira inconsciente e pede para Biu (Marcos Cesana) colocar fogo
em vários medicamentos. Quando Ivan descobre, ele o leva para uma sala isolada
e o tranca. Num outro dia, Neto escreve uma carta, e quando seu pai vem
visitá-lo, ele apenas a entrega e não quer conversar. Após se recusar a cortar
o cabelo, ele é preso novamente num quarto isolado, onde ele põe fogo. Ivan vê
e não faz nada e Biu acha que ele morreu, porém abrem a porta e Neto sai de lá.
Após ler a carta em que Neto conta tudo o que passou na instituição, seu pai o
tira do hospital.

Elenco
O elenco de Bicho de Sete Cabeças,
listado a seguir, foi premiado em vários festivais. Seus atores e atrizes
receberam prêmios de “Melhor Ator”, para Rodrigo Santoro, que fazia
seu primeiro longa-metragem, “Melhor Atriz” para Cássia Kiss e
“Melhor Ator Coadjuvante” para Gero Camilo e Othon Bastos.
Rodrigo Santoro —
Neto
Othon Bastos — Sr.
Wilson ou Seu Wilson
Cássia Kis Magro —
Meire, mãe de Neto
Daniela Nefussi —
irmã de Neto
Jairo Mattos —
enfermeiro Ivan
Altair Lima — Dr.
Cintra Araújo
Caco Ciocler —
interno Rogério
Lineu Dias — interno
Jornalista
Gero Camilo —
interno Ceará
Marcos Cesana —
interno Biu ou Bil
Luis Miranda —
enfermeiro Marcelo
Valéria Alencar —
Leninha
Gustavo Machado —
Lobo
Cláudio Carneiro —
Alex
Talita Castro — Bel

Roteiro
Bicho de Sete Cabeças foi o
primeiro longa de Bodanzky e segundo ela, o roteiro foi a peça-chave no filme.
Muitas pessoas foram atraídas pelo roteiro, como os atores Rodrigo Santoro,
Othon Bastos e Cássia Kiss, os produtores Caio e Fabiano Gullane e Sara
Silveira, e o co-produtor Marco Müller, da Fabrica Cinema. Para sua adaptação
do livro, Bolognesi decidiu trabalhar da maneira mais livre possível,
considerando o livro uma peça de inpiração do trabalho, mas com a liberdade
irrestrita para inventar situações, personagens ou até modificar a
personalidade dos personagens. Carrano logo depois aceitou, conforme o que o
roteirista e a diretora disseram: “Nosso desejo era manter a espinha
dorsal da história, ventilando-a para o grande público, mas com a liberdade de
recriar o que achássemos necessário para a eficácia da narrativa
cinematográfica.” Bolognesi procurou criar um Neto muito mais tímido do
que o articulado e carismático Carrano. O roteirista também queria que Neto não
fosse o líder da turma, mas apenas um dos alunos da sala de aula. O objetivo
segundo ele “era construir um personagem que espelhasse o espectador comum
e não anunciasse um herói.” O roteirista também sentia a necessidade de
construir um segundo eixo narrativo, então ele construiu uma relação entre pai
e filho, outro tabu enfrentado pela sociedade, tratando-a como uma história de
amor e ódio. Como inspiração para esse relacionamento, ele citou o livro Carta
ao Pai, de Franz Kafka.
A primeira versão do
filme foi escrita em 1997 durante uma viagem com o Cine Mambembe. Naquele
período, Bodanzky e Bolognesi viajavam pelo interior do Brasil projetando
curtas brasileiros em praças e escolas. Essa viagem ajudou Bolognesi a escrever
a primeira versão do filme. Depois da viagem, o roteiro foi comentado por
Bodanzky e recebeu críticas fundamentais de alguns colaboradores. Durante dois
anos, o roteiro foi reescrito cinco vezes. Por último e mais importante, poucos
meses antes das filmagens, Carrano leu e aprovou o roteiro.


Música
“Fora de
Si” 
        Arnaldo
Antunes        
“O Caminho das
Pedras” 
        Zona
Proibida        
“Satélites” 
        Infierno        
“Abertura e
Corredor” 
        André
Abujamra        
“O Buraco do
Espelho” 
        Arnaldo
Antunes        
“Eletrochoque e
Fuga” 
        André
Abujamra        
“Carnaval” 
        Arnaldo
Antunes        
“No Ponto de
Ônibus” 
        André
Abujamra        
“E
Só” 
        Arnaldo
Antunes        
“Refeitório” 
        André
Abujamra        
“Seu
Olhar” 
        Arnaldo
Antunes        
“Janela de
Apartamento II” 
        Décio
Rocha        
“Bicho de Sete
Cabeças II” 
        Zé Ramalho, Geraldo
Azevedo e Zeca Baleiro        
“O Nome
Disso” 
        Arnaldo Antunes (remix
André Abujamra)







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